Os três grandes portugueses queixam-se com frequência das diferenças financeiras que os separam dos clubes europeus, e que os impedem de competir pelos principais troféus do Velho Continente. E de certa forma têm razão: os bolsos dos alemães, espanhóis e ingleses são bem mais fundos do que os portugueses. Mas talvez devessem olhar também para baixo. É que apesar de a diferença em relação aos clubes europeus de topo ser ser grande, a diferença entre eles e os clubes portugueses de meio da tabela é muito maior. Pelo menos, no que a salários diz respeito.
Os cálculos são do Finance Football, usando dados da UEFA. A despesa com salários média dos quatro principais clubes portugueses é nada mais, nada menos do que 8 vezes a despesa dos clubes do ‘meio da tabela’. (e que, no caso, correspondem aos que se encontram entre o 5º e 8º lugares).
E se a comparação for feita em relação aos clubes daí em diante – os que ocupam o 9º lugar ou seguintes, portanto – então a discrepância passa para 14 vezes. Sim, leu bem: o custo médio do plantel de um Benfica ou Porto é catorze vezes superior ao custo médio de um clube que fique abaixo de metade da tabela.
É fácil pensar que estas discrepâncias são comuns no futebol europeu, mas isso não é verdade. De facto, em nenhum dos chamados big five (Alemanha, Itália, Espanha, Inglaterra, França) as discrepâncias são tão grandes. O caso mais próximo é mesmo o de Espanha, onde o rácio entre os salários médios no topo e os salários médios a meio da tabela atinge os 10,6.
A própria UEFA, de resto, revela estranheza com os resultados obtidos por Portugal. «Os maiores clubes portugueses destacam-se como foras de série nestas estatísticas. Têm o rácio mais alto de salários/investimento face aos clubes que aparecem nas posições seguintes da tabela classificativa (8-20). De facto, o custo médio de cada plantel – de 86 milhões de euros – é comparável ao dos clubes espanhóis e alemães que aparecem entre o 5º e 8º lugares dos respectivos campeonatos”, lê-se no relatório.
Salários: tendência velha agrava-se
Nada disto é novo: na edição do ano anterior (2015) Portugal já ocupava o primeiro lugar na tabela dos campeonatos com maiores discrepâncias salariais. Mas as diferenças não eram tão grandes: o rácio entre a despesa salarial média do TOP 4 e a despesa salarial média dos clubes que ficam entre o 5º e 8º lugares era de 7,3 – um valor consideravelmente abaixo dos 8,4 que se vêem nos dados mais recentes.
Em parte, isto resulta da aposta forte dos três grandes no reforço dos seus plantéis, o que nalguns casos tem gerado um disparar da factura salarial. Como o Finance Football já mostrou, aliás, o peso dos salários do plantel do Porto atingiu recordes na época passada, e já absorve mais de 100% das receitas do clube azul e branco. Mas a situação financeira dos outros três grandes também não é famosa.
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Tendo isto em conta, não é de estranhar que o campeonato português seja tão monocórdico no que a vitórias diz respeito. Com um poderio económico tão acima do resto da concorrência, os três grandes jogam claramente noutra liga. Fenómenos como o do Leicester, que no ano passado levou de vencida gigantes como o Manchester United, Manchester City, Arsenal ou Liverpool, são muito mais difíceis de repetir em terras lusas. Não será aliás por acaso que Inglaterra é o país onde os ricos têm menos recursos relativamente aos clubes mais modestos.
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