Não causa nenhuma controvérsia dizer que o desempenho de um clube de futebol dentro de campo depende largamente do dinheiro que nele é investido. No entanto, isso só costuma chamar a atenção quando uma equipa de pouca tradição passa a ser, quase da noite para o dia, uma das principais forças de determinada competição.
Este tem sido o caso do Famalicão no seu retorno à Primeira Liga portuguesa depois de 25 anos. Inicialmente foi motivo de surpresa para muitos ver os bons resultados dos Azuis e Brancos, que vêm mantendo-se entre os primeiros colocados do campeonato desde o início – inclusive sendo líderes por quatro fases.
Mas, para aqueles que acompanham o mercado, a surpresa não foi tão grande assim. Pode-se dizer que a reviravolta começou oficialmente em junho de 2018, quando o Quantum Pacific Group, do bilionário israelense Idan Ofer, adquiriu 51% do capital social do clube, valor que passou para 85% no último mês de setembro.
Tamanho interesse por parte do magnata israelense causaria estranhamento se a relação dele com Jorge Mendes não fosse conhecida. O empresário português, fundador da Gestifute – conhecida por agenciar Cristiano Ronaldo e diversos outros jogadores de renome internacional –, tem profundas ligações com o Atlético de Madrid, clube do qual o Quantum Pacific detém 32%.

“SMX_8256” (CC BY 2.0) by Web Summit
Não por acaso, foi do Atlético que vieram emprestados dois dos reforços mais destacados do Famalicão para a temporada 2019/20: o uruguaio Nicolás Schiappacasse e o argentino Nehuén Pérez. Além destes, há que se mencionar as vindas (também por empréstimo) do espanhol Álex Centelles e do sérvio Uroš Račić, ambos pertencentes ao Valencia.
Os quatro jogadores acima citados contam com passagem pelas seleções de base dos respectivos países. Tal preferência por jogadores mais jovens e promissores faz com que o Famalicão seja avaliado, de acordo com o site Transfermarkt, como o 6.º clube da liga portuguesa em termos de valor de mercado.
Este último dado é particularmente útil antes de analisar o possível aproveitamento de qualquer equipa. A julgar simplesmente pelo histórico do clube, o Famalicão seria forte candidato ao rebaixamento nesta temporada, mas quem quer que pesquise e leia mais antes de jogar em sites de apostas acaba deparando-se com uma dimensão económica que, no futebol, nunca pode ser ignorada.
Assim, uma análise histórica de um clube é apenas um dos fatores a ser considerado – e, muitas vezes, sequer é o mais importante. No caso do Famalicão, apesar de todo esse tempo longe do primeiro escalão português, terminar a atual temporada abaixo da 6ª posição poderia ser considerado até mesmo uma decepção – pelo menos para Idan Ofer e Jorge Mendes. Principalmente porque a liga portuguesa é tida como uma das ligas europeias de menor competitividade.
É raro ver uma equipa além de Benfica, Porto e Sporting disputando o título, e nesta temporada não vem sendo diferente. Ainda assim, o Famalicão vem mostrando que, em Portugal, um clube com um pouco mais de investimento já pode se dar o direito de sonhar, no mínimo, com uma vaga na Liga Europa na temporada seguinte.
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