Os britânicos ainda estão a perceber o alcance do impacto da saída do Reino Unido da União Europeia. Mas uma coisa é certa: nada ficará como dantes na Europa.
No futebol, enquanto se espera maior esclarecimento em relação a restrições na contratação de atletas europeus por parte de clubes britânicos, a Associação de Futebol Inglesa procura o ponto de equilíbrio para não perder vantagem competitiva face à Europa continental.
“É demasiado cedo para saber qual o impacto no futebol inglês, mas pode ser grande. Sempre disse que é uma pena que haja cada vez menos jogadores ingleses nas equipas da Premier League. Se esta medida ajuda a que o número aumente é perfeito, mas também não quero perder os melhores futebolistas europeus”, declarou Greg Dyke, responsável por aquele órgão federativo.
Actualmente, a Premier League conta com mais de 400 atletas europeus registados, entre eles os portugueses José Fonte e Cédric Soares, ambos do Southampton.
E as regras são claras: os jogadores de fora da UE devem cumprir determinados requisitos no sentido de receber uma licença de trabalho e poderem jogar na Premier League.
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Para os clubes portugueses, apesar de ainda estarmos longe de perceber o verdadeiro impacto do Brexit, surge a certeza de que negociar e vender atletas com emblemas britânicos será de agora em diante uma tarefa bem mais complicada.
E isto deve-se não só à expectável criação de obstáculos burocráticos como consequência da saída do Reino Unido do projecto europeu, mas também porque a desvalorização da libra tornará os bens e serviços europeus (entre eles jogadores de futebol) mais caros para o bolso dos britânicos, dificultando naturalmente as exportações.
360 milhões de desvantagens
Como noutros sectores económicos, também no futebol o Reino Unido é bom freguês da praça nacional.
Só nos últimos dez anos, os clubes portugueses “exportaram” mais de 364 milhões de euros em jogadores de futebol. Só na temporada 2014-2016 este montante ascendeu quase aos 100 milhões de euros, sobretudo com as vendas de Eliaquim Mangala (FC Porto-Manchester City), Markovic (Benfica-Liverpool) e Marcos Rojo (Sporting-Manchester United).
Ao nível das importações, onde os clubes nacionais terão maior vantagem, a valores envolvidos são bastante inferiores – 10 milhões de euros. O que deixa antecipar que os clubes nacionais em pouco vão beneficiar com desvalorização da moeda britânica e importações mais baratas.
Estatuto de jogador extra-comunitário
Por outro lado, assim que o Reino Unido sair da UE, qualquer jogador britânico a jogar na Europa Continental passará a contar com o estatuto de jogador extracomunitário, tornando-o o mercado inglês muito menos apetecível para o resto da Europa.
Não sendo muito frequente um jogador inglês sair do seu campeonato, há alguns exemplos que podem complicar a vida aos seus clubes. É o caso do galês Gareth Bale no Real Madrid. Os actuais campeões europeus estão limitados à presença de três jogadores extracomunitários no seu plantel. E as vagas já estão ocupadas por James Rodriguez, Casemiro e Danilo.
Em Portugal, o Sporting conta com o escocês Ryan Gould. O promissor médio de 20 anos tem actuado para já na equipa B dos leões, mas o estatuto de jogador não-comunitário deixará poucas perspectivas de afirmação na equipa principal.
Retenção de jovens talentos
A imposição de barreiras à entrada de jogadores europeus no futebol britânico irá reflectir-se ao nível das camadas jovens.
No futebol actual é cada vez mais comum ver os grandes clubes europeus apostarem em jovens talentos e, no caso britânico, esta circunstância tem sido nefasta para os clubes portugueses.
Por exemplo, Rony Lopes fez parte da sua formação no Benfica mas depressa despertou o interesse do Manchester City, clube que viria a contratá-lo com apenas 15 anos. Outro caso é o de Domingos Quina, que se sagrou recentemente campeão europeu de sub-17. O médio português deixou o Benfica com apenas 13 anos para ingressar no Chelsea. Actualmente é jogador do West Ham e uma das maiores promessas do futebol luso.